Campos de Invisibilidade
Fields of Invisibility

A programação completa da exposição pode ser acessada
no Portal oficial do Sesc em: sescsp.org.br/belenzinho.
Este site-arquivo foi desenvolvido pela curadoria,
com a finalidade de pesquisa sobre os conteúdos
e artistas envolvidos nessa exposição.


08 Nov 2018 a 03 Fev 2019
Nov 8th 2018 to Feb 3rd 2019 no/at Sesc Belenzinho, São Paulo, SP, Brasil


Exposição
Exhibition


Ada Lovelace
Alan Turing
Aretha Sadick
Bruno Mendonça
Carolina Caycedo
Cristine Takuá
Déborah Danowski
Denise Agassi
Emma Charles
Felix Pimenta
Jon Rafman
Julio Plaza
Kabila Aruanda
Louis Henderson
Rita Wu
Ruy Cézar Campos
Tabita Rezaire
Territorial Agency

Espaço expositivo
Exhibition space —

Curadoria
Curatorship
Cláudio Bueno e/and Ligia Nobre com/with assistência/assistance
de/of Ruy Cézar Campos

Sesc SP
Razão Revista / Reason Revisited

Encontro
Encounter


Déborah Danowski
Keller Easterling
Tabita Rezaire

Yvyrupa, Terra Livre:
conversa com Cristine Takuá
— por
Cláudio Bueno e Ligia Nobre

Yvyrupa, Free Land
Conversation with
Cristine Takuá by Cláudio Bueno e Ligia Nobre

Ficha Técnica
Credits
(em breve / soon)

Imprensa



Mark
CAMPOS DE INVISIBILIDADE

O que está fora de nosso campo de visão ainda continua existindo.

Abrir esta exposição com tal afirmação nos convida a refletir sobre a ecologia de problemas mobilizada pelo que chamaremos aqui de infraestrutura tecnológica global. São aspectos sociais, econômicos, técnicos, simbólicos, espirituais, culturais, sexuais, políticos, geográficos, ambientais, todos fortemente intrincados e que acabam por atualizar, e dar sequência global, a normativas e narrativas coloniais preexistentes. E para que tais narrativas se perpetuem, muitos artifícios, codificações, transações, operações e abstrações são criados, no sentido de empurrar para fora de nosso campo de visão, reflexão, percepção e conhecimento, todas essas implicações.

Sob essa lógica, aprendemos a chamar de “nuvem” o lixo eletrônico que produzimos e despejamos na costa oeste africana, a água necessária para a refrigeração de fazendas de servidores de dados que armazenam todas as nossas in formações, as guerras e a situação do trabalho em países como o Congo (muito em função da mineração voltada para indústria de aparelhos eletrônicos), a exploração e expropriação da terra e do trabalho feitas por empresas multinacionais em terras brasileiras (especialmente na Amazônia e em Minas Gerais), entre muitos outros aspectos, agentes e localidades que compõem essa cadeia que nos ensinaram a negar, a não ver.

A perpetuação dessa narrativa, em contextos atravessados por tecnologias eletrônicas e digitais, tende a tratar como neutro e universal o saber e o corpo do sujeito que a escreve. Mas sabemos que nossas visões de mundo são sempre recortadas, e também limitadas, assim como a de programadores de algoritmos, cientistas da computação, engenheiros de grandes infraestruturas etc. Estes acabam por valorizar, visibilizar e estruturar o funcionamento das tecnologias e suas infraestruturas, a partir de certos saberes, corpos, culturas, geografias, políticas, e não outros.

Mediante o processamento veloz, intercontinental, genérico e antinarrativo de uma lógica Big Data, artistas situam aqui, no Sesc Belenzinho, narrativas audiovisuais e gráficas, constituídas a partir de contextos específicos como: Praia do Futuro, La Guajira, Agbogbloshie, Mariana, Aldeia Rio Silveira, Pico do Jaraguá, bem como aqueles que enfatizam as arquiteturas dos seus próprios corpos como locus central de ação, ou ainda, a coexistência com outros seres, não apenas humanos.

Convidamos os públicos a navegar conosco por este conjunto de narrativas, que podem ser lidas como um contracampo ao ambiente tecnológico contemporâneo, alargando nossa percepção para além do que está visível – enquanto forma, enquanto interface, enquanto limites de mundos que frequentamos. Propomos que este seja um percurso—ritual de liberação de certos enfeitiçamentos, um percurso que imagine, conosco, novas alquimias e contrafeitiçarias.


Cláudio Bueno e Ligia Nobre
Curadores
Ruy Cézar Campos
Curador assistente

FIELDS OF INVISIBILITY

What is outside our field of vision does not cease to exist.To open this exhibition with such a statement invites us to reflect on the ecology of problems mobilized by what we shall name here global technological infrastructure. Namely social, economic, technical, symbolic, spiritual, cultural, sexual, political, geographic, environmental aspects, all of which are heavily intricate, and ultimately actualize and give global sequence to preexisting colonial norms and narratives. And in order to perpetuate such narratives, numerous devices, codings, transactions, operations and abstractions are created, while pushing out of our field of vision, reflection, perception and knowledge, all these involved factors. Under this logic, we learned to call the cloud the electronic waste we produce and dump, on the West African coast; the water needed for the cooling of server farms and data servers that store all our information; the wars and the labor situation in countries like Congo, closely related to the mining focused on the electronics industry; the exploitation and expropriation of land and labor, made by multinational companies in Brazilian lands, especially in the Amazon and Minas Gerais; among many other aspects, agents and localities that compose this chain that taught us to deny, not to see.

The perpetuation of this narrative, in contexts traversed by electronic and digital technologies, tends to treat as neutral and universal the knowledge and the body of the subject who writes it. But we know that our worldviews are always constrained, limited like the eyes of algorithmic programmers, computer scientists, big infrastructure engineers, and so on. These end up valuing, visualizing and structuring the operation of technologies and their infrastructures, based on certain knowledge, bodies, cultures, geographies, policies, while excluding others.

Facing the fast, intercontinental, generic and antinarrative processing of a Big Data logic, artists situate here, in Sesc Belenzinho, audiovisual and graphic narratives, constituted from specific contexts, such as: La Guajira (Colombia), Agbogbloshie (Ghana), Praia do Futuro, Mariana, Aldeia Rio Silveira, Jaraguá Peak (Brazil), as well as those who emphasize the architectures of their own bodies as the central locus of action, or even the coexistence with other beings, not only humans.

We invite audiences to navigate with us through this set of narratives, which can be read as a counterfield to the contemporary technological environment — extending our perceptual fields beyond what is visible, as form, as interface, as the boundaries of worlds we dwell in. We propose that this be a ritual–path of liberation of certain bewitchments, performing with us new alchemies, and also counter-sorceries.



Cláudio Bueno and Ligia Nobre
Curators
Ruy Cézar Campos
Curatorial Assistant